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Alcoolismo
Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo
AA
Clarice Madruga
UNIFESP
Camila de Sene
Alcoólicos Anônimos

18 de Fevereiro – Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo

Não deixe o álcool acabar com o seu prazer de viver

18 de Fevereiro – Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo

 

Dados do último Levantamento Nacional de Álcool e outras Drogas (II Lenad), realizado pela UNIFESP, de São Paulo, revelam a preocupante dimensão do problema na população brasileira: cerca de 12 milhões dos adultos disseram consumir bebidas alcoólicas uma vez por semana ou mais. O estudo, de 2013, também mostrou que 8% das pessoas admitiram que o uso do álcool teve efeito prejudicial no seu trabalho, enquanto 4,9% relataram já ter perdido o emprego devido ao consumo de bebidas alcoólicas.

18 de Fevereiro – Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo

O dia 18 de fevereiro é uma data muito importante, pois é a data da conscientização de toda a população sobre os danos e doenças que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode causar.

Mas lembre-se: dia de se conscientizar é todo dia!

O uso de substâncias psicoativas acompanha a história da humanidade. No caso do álcool, aparece relacionado a rituais religiosos, culturais e sociais. As propagandas e o fácil acesso contribuem para o aumento do consumo da bebida, com uma glorificação da substância, alavancada pela influência e poder econômico das principais fabricantes de bebidas alcoólicas.

Se hoje ainda não é possível que o álcool seja eliminado completamente da sociedade, torna-se cada vez mais necessário um esclarecimento maior da população em relação a seus efeitos e sobre como se fazer um consumo responsável.

 O álcool é uma droga com efeitos depressores sobre o sistema nervoso central e que leva à sedação, prejuízos na coordenação motora e desinibição do comportamento, modificando a capacidade de julgamento do indivíduo. A dependência de álcool é uma doença crônica e multifatorial.

Entrevista sobre Alcoolismo na Rádio CBN São Paulo, com especialistas

 No dia 17 de fevereiro de 2021, a Rádio CBN São Paulo recebeu para uma entrevista sobre o alcoolismo as doutoras Clarice Sandi Madruga e Camila Ribeiro de Sene, além de Maria (nome fictício). O relato de Maria mostra como o álcool interfere na vida de um dependente e nos dá uma clara e real visão de quanto são importantes a prevenção e a conscientização da população. Acompanhe na íntegra como foi a matéria que foi ao ar a partir das 14h40 e pode ser acessada no site da CBN (https://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-sao-paulo/CBN-SAO-PAULO.htm).

Entrevistadas:

Maria* – 51 anos, mulher alcoólica em recuperação (*nome fictício)

Dra. Clarice Madruga – Psicóloga, doutora em psiquiatria e pesquisadora do Departamento de psiquiatria da Unifesp.

Dra. Camila Ribeiro de Sene – Psicóloga e Presidente do Grupo Alcóolicos Anônimos do Brasil (AA)

CBN: Alcoólatra é a pessoa que toma mais de 3 copos de chopp, 3 taças de vinho ou 2 doses de uísque ao dia por pelo menos 4 vezes na semana, segundo a OMS. É correto se referir ao adicto, à pessoa dependente de álcool como alcoólatra ou esta nomenclatura já mudou?

Dra. Camila R. de Sene: Esta nomenclatura vem mudando de acordo com as interpretações que a própria ciência dá. Em AA, nós usamos “alcoólico” para expressar a pessoa que tem problemas com o uso e a dependência do álcool. Lembrando que esta terminologia é utilizada exatamente para desmistificar, para trazer mais informação e tirar um pouco do preconceito acerca dessa doença, que é de extrema importância, principalmente quando se trata do alcoólico, este ser humano que sofre e que precisa de tratamento e que precisa, como é em Alcoólicos Anônimos, ter a sua identidade preservada para que ele possa buscar o tratamento de maneira mais expressiva, interagindo com a sociedade de forma respeitosa a sua pessoa. Em AA, a expressão que usamos é exatamente para assegurar o anonimato dessas pessoas que são muito julgadas, principalmente as mulheres.

CBN: Certo, então eu devo me referir às pessoas dependentes do álcool como alcoólicos, correto?

Dra. Camila R. de Sene: Sim, acho que a Dra. Clarice, enquanto cientista, pode trazer essa terminologia. Falamos sobre o transtorno por uso de substâncias, no caso, o álcool e acredito que para nós, membros do AA, é importante salientar principalmente esse olhar livre de toda essa crença cultural e social que é estimulada em relação ao álcool.

CBN: Clarice, quer falar?

Dra. Clarice Madruga: Eu gostaria sim, acho que é um tema muito legal poder falar sobre a terminologia e acho que a Camila colocou muito bem. O jeito que chamamos as coisas na sociedade, pode estar vinculado a um estigma e nós somos de uma população que já sofre com o estigma, que já tem uma dificuldade muito grande de ter uma identidade separada do transtorno que ela possui e isso acaba se misturando. “Alcoólicos” é uma coisa muito da comunidade do AA, que usa esse termo. Daí isso realmente vai mudar conforme o grupo que se refere: na academia usamos o termo “dependente químico”, “dependente com Síndrome de Dependência Alcoólica”, que é o nome na área da saúde, clínica. Na sociedade, de forma geral, o alcoolismo é o termo mais usado. O alcoólico fica muito característico desse espectro do AA, que tem essa comunidade tão legal e que faz esse movimento para o reconhecimento do problema, de poder falar sobre o assunto sem estigma. No Brasil, não é tanto, mas fora daqui você não pode nem chamar uma pessoa de “usuário de drogas” pois ficou ofensivo já que é um indivíduo que usa drogas.

CBN: Você acaba desumanizando o indivíduo, não é?

Dra. Clarice Madruga: Exato, então eu acho importante essa reflexão. E pensando assim: dentro da ciência nós chamamos de dependente químico ou dependente com síndrome de dependência alcoólica e, na sociedade, o “alcoolismo” ainda é um termo mais neutro pois não te coloca num grupo específico e não traz o estigma forte como o “alcoólatra”. Eu sempre recomendo que, na dúvida, use o termo alcoolismo pois fica mais neutro.

CBN: Ótimo, então agora que já sabemos como falar corretamente, vamos em frente. Eu disse aqui algumas medidas dadas pela Organização Mundial da Saúde para que uma pessoa seja considerada adicta ou alcoólica. Mais de 3 copos de Chopp, 3 taças de vinho ou 2 doses de Whiskey por dia. O que você acha desse limite, Camila?

Dra. Camila R. de Sene: Para nós, em AA, uma dose é muito. A pessoa que tem problemas com a compulsão pelo consumo da bebida alcoólica, um trago, uma bebida, um gole, vai despertar e potencializar todo esse comportamento compulsivo de beber sem medidas. Por isso, em AA, falamos sobre evitar o primeiro gole. Então, a abstinência é a base da recuperação em AA.

Dra. Clarice Madruga: Uma vez diagnosticada, não é Camila? Acho que me preocupa essa definição de doses pois uma das coisas que eu acho que é mais relevante para um estágio ainda muito antes desse reconhecimento e dessa tomada de atitude que existe dentro do grupo AA, está a questão de ter um diagnóstico e entender que existe um transtorno. É muito importante entender que o alcoolismo não está relacionado a doses, acho que essa definição vem relacionada ao uso abusivo e associado a ter o transtorno. Mas quando falamos de diagnóstico, que só um profissional da saúde mental vai poder determinar, daí é importante que entendamos que vai muito além da dose. Aliás, a quantidade do consumo vem totalmente em segundo plano porque o que a gente entende como sendo um transtorno, seja ele o alcoolismo ou qualquer outro, ele está mais sendo determinado pelo quanto aquele comportamento, sintoma afeta a vida da pessoa. Eu vejo muitos dizendo que “ Nossa, eu estou bebendo toda sexta tantas doses e estou passando longe dessa definição da OMS”, mas quando vamos olhar os critérios diagnósticos, sim, isso é nocivo, causa impactos que podem ser irreversíveis mas, não necessariamente, isso é um diagnóstico psiquiátrico onde a pessoa seria diagnosticada com alcoolismo pois para investigar se afeta biológica, psicológica e socialmente. Então as perguntas para o diagnóstico estão relacionadas com o trabalho, família, justiça.

CBN: É sempre ligado à de que maneira o álcool interfere na vida, não é?

Dra. Camila R. de Sene: Em AA, acho importante ressaltar, não existe esse diagnóstico. Para fazer parte da irmandade, basta o desejo de parar de beber. Então, o que observamos: essas pessoas que procuram a sala de reunião de AA, elas identificaram seu comportamento, seus comprometimentos sociais, emocionais, laborais ou até mesmo já passaram por um médico, então essa questão do diagnóstico é muito próxima da ciência. Em AA, nós não fazemos isso, então as pessoas que chegam lá podem estar ou não com o diagnóstico, mas elas identificam esses comportamentos inadequados e querem se recuperar da doença do alcoolismo. Nós temos em AA, um questionário com 12 perguntas aproximadas a esse inventário clínico que é feito, principalmente se a pessoa, no seu dia a dia, apresenta sinais de problema.

CBN: Por exemplo?

Dra. Camila R. de Sene: Se ela já faltou no emprego, se já percebeu que a vida podia ser melhor sem a bebida, se já tentou substituir uma bebida pela outra, se algum familiar já deu algum indicativo do seu problema...

CBN: Achei aqui as perguntas: Já tentou parar de beber por uma semana ou mais, mas só conseguiu por alguns dias? Tomou algum trago pela manhã nos últimos 12 meses? Já mudou o tipo de bebida na esperança de que isso poderia impedi-lo de ficar bêbado? Sua maneira de beber já te causou problemas em casa? Tentou conseguir quantidades extras de bebidas em festas onde as doses eram limitadas?

Dra. Camila R. de Sene: É muito semelhante aos critérios do DSM, muito semelhante aos critérios diagnósticos, pois mostra o impacto na vida.

CBN: Quando a Clarice fala sobre um fenômeno bio-psico-social, a gente sabe que não existe resposta simples para a pergunta. Como chega dos ouvintes por exemplo: “Quais são os sinais de que estou ficando dependente da bebida?” e para isso, queria ouvir a Maria já que ela está aqui para contar sua história. Maria, quando você provou álcool e, a partir daí, qual foi a sua relação estabelecida com a bebida?

Maria: Oi, a primeira vez que tive contato, eu tinha 13 anos. Eu estava muito triste pois tinha perdido meu pai a poucos meses e eu fui no natal na casa dos meus avós paternos e nesse dia, eu bebi escondido e bebi muito. As pessoas não percebiam que eu estava bebendo e passei muito mal. Aí começou meu consumo descontrolado.

CBN: E o que você chama de “consumo descontrolado”? Qual a relação que você estabeleceu com a bebida? Por que bebia? Em que situações você bebia e o que você buscava no álcool?

Maria: Olha, eu passei a usar o álcool para tudo na minha vida. Para comemorações quando eu estava alegre e para me acalmar quando eu estava triste. Então se eu tinha um problema, ficava triste, ansiosa... para tudo! O álcool passou a ser uma muleta para todas as ocasiões, eu usava muito.

CBN: E como era sua rotina, sua vida, Maria? Era “baladeira”? Como eu dizia, no começo, em geral, as socializações têm álcool. É uma droga aceita socialmente, aliás até exigida socialmente algumas vezes.

Maria: Olha, a impressão eu tenho é que eu perdi muito da minha vida por causa do alcoolismo pois como eu comecei a usar muito cedo, eu me tornei uma pessoa relativamente diferente das outras pessoas que eu convivia. Então eu não me tornei “baladeira”, eu virei uma pessoa muito retraída. Não gostava de balada, boate, meu foco era sempre beber. Sair para beber. Eu não me divertia muito pois eu poderia sair para curtir a natureza, mas mesmo na natureza, eu estava sempre me alcoolizando para “me divertir”. Então acabei criando uma dependência muito grande do álcool e isso atrapalhou muito. Na minha festa de 15 anos, me embriaguei, 14 horas da tarde eu estava bebendo cachaça e às 18 horas eu já estava completamente bêbada. E minha família já não sabia como me controlar nessa época. Então, não vivi minha adolescência, o início da vida adulta, eu sempre tive a vida muito atrapalhada por essa doença do alcoolismo.

CBN: Você sabia, aos 15 anos, que você estava com esse problema? Pois eu tenho uma impressão de que todo alcoolista tem a certeza de estar no controle da bebida e que pode parar de beber quando quiser. Como era com você?

Maria: Eu não tinha nenhuma ideia de que isso poderia ser um problema. Eu só passei a questionar e largar a bebida aos 51 anos. Antes, era muito normal beber, se embriagar, tomar porres, pois era muito socialmente aceito e nunca questionei meu uso até eu quase morrer, então procurei o AA. Mas até então, nunca passou pela minha cabeça que o álcool poderia me trazer esse prejuízo.

CBN: Quer contar esse episódio e por que buscou ajuda?

Maria: Eu tive medo de morrer pois há 7 anos e meio antes, eu estava com muitos problemas físicos, afetivos, emocionais, cognitivos, relacionais, eu apresentava muitos defeitos na saúde e procurei um psiquiatra há uns 8 anos atrás. E comecei a tomar remédio psicotrópico pois não falei do meu problema com álcool, já que não tinha essa consciência. Então, o diagnóstico dele foi que eu tinha Transtorno Afetivo Bipolar. Eu tinha crises de ansiedade que passaram a ficar em níveis altíssimos, passei por episódios depressivos e tinha dores de cabeças horríveis que não me deixavam nem andar e tomei remédio para ansiedade, depressão e um medicamento a base de codeína para a dor de cabeça e todos esses estavam sempre dentro da minha bolsa, era uma situação muito difícil. E mesmo assim, eu continuava bebendo e eu comecei a ter umas reações muito fortes de crises de hipoglicemia. Eu sempre tinha isso com a bebida mas passavam rápido e não me afetavam muito, mas passaram a ser mais presentes e piores, então fiquei com medo de morrer. Eu passava em torno de 12 horas com crises de hipoglicemia sem conseguir falar e se eu conseguia, eu pedia um doce. Então o que me levou ao AA foram minhas crises de hipoglicemia e porque isso poderia me levar a morte. Eu não sabia que todas as outras coisas também estavam relacionadas ao álcool, então descobri uma série de outras coisas que me trouxeram de volta e passar a ter uma vida normal. Eu era muito estranha, agressiva, não conseguia me relacionar, descontrolada e hoje em dia, eu consigo ser uma pessoa mais dentro desse “padrão de normalidade da sociedade” pois eu não estou mais sob efeito de uma substância que me adoecia e isso me trouxe uma qualidade de vida incrível.

CBN: Maria, você teve recaídas?

Maria: Nenhuma, graças a Deus!

CBN: Foi tentador?

Maria: Para mim não, pois meu estado já era tão caótico e quando eu me encontrei com o programa que trabalha minha abstinência e as dificuldades que eu tenho na minha vida, foi como uma tábua da salvação. Eu, vivenciando esse programa e participando das reuniões, lendo a literatura de AA e tendo conhecimento do que aconteceu com outros alcoólicos, sentindo aquelas coisas maravilhosas de estar sóbria, eu não tive mais vontade de beber. Eu fujo do álcool como o Diabo foge da cruz. Eu estou ciente de que eu tenho uma doença e que se eu não ingerir o primeiro gole, eu posso manter a doença sobre controle e não vou mais sofrer com a destruição que o álcool causou na minha vida.

CBN: Clarice, os médicos dizem que o alcoolismo não tem cura e que mesmo depois de anos sem beber, sim, o alcoólico pode voltar a beber. São as recaídas. Como isso ocorre?

Dra. Clarice Madruga: Então, lindo o relato da Maria, muito obrigada Maria. Eu acho que a sua resposta está em um dos pontos do relato dela. O primeiro tem a ver com a biologia: a dependência química é uma doença que gera alterações no cérebro. Quando ela conta como o álcool está relacionado com o prazer, isso também tem a ver com como a droga funciona no nosso cérebro. Nós fazemos uma brincadeira de que a substância “sequestra” o nosso circuito do prazer e é exatamente isso que acontece quimicamente. Por isso, existe esse comportamento de parar de fazer atividades que me dão prazer para começar a beber. Isso tem a ver com uma modificação biológica do cérebro pois, para se adaptar com a entrada contínua daquela substância, ele se modifica literalmente, e toda aquela área do cérebro dos prazeres mundanos, aqueles que nos fazem felizes diariamente começa a funcionar em função da substância. Isso são mudanças químicas e morfológicas para dar conta da entrada da substância e isso se relaciona com a fissura, a vontade de usar que é tão grande. Aí a intolerância acontece por modificações fisiológicas do cérebro. A tolerância marca o cérebro. E tem um componente muito importante que é: o quanto o uso precoce faz alterações na morfologia que são permanentes. Eu não consigo não bater nessa tecla por que nós estamos em um país que banaliza absurdamente o uso precoce. Eu escuto dos pais que preferem que os filhos bebam em casa com eles do que lá fora na rua, dirigindo bêbado e fazendo besteira. É claro que na rua ele pode fazer coisas piores, mas o consumo de um adolescente menor de 22 ou 23 anos, de acordo com a biologia, gera um impacto físico, morfológico e modifica a forma com que o cérebro cresce, você vulnerabiliza aquele indivíduo para desenvolver a dependência do álcool e para uma série de outros transtornos psicológicos e de outras substâncias. Estamos falando de um órgão que demora muito para se desenvolver e que o álcool atua até mesmo na capacidade de regeneração desse órgão quando usado muito cedo. É maquiavélica a ação do álcool e eu acho que essa é uma questão tão importante pois os pais olham apenas para a exposição no mundo e não olham para o impacto fisiológico do órgão mais importante dos filhos deles. Por isso nosso foco de prevenção ao alcoolismo. Os pais não podem banalizar esse consumo, precisa ser pelo menos postergado e o auxílio e vigilância da família é muito importante para evitar esses problemas.

CBN: Camila, com a pandemia, as reuniões de órgãos foram suspensas e demorou um pouco para que isso fosse para internet. Eu gostaria muito de saber como foi isso para o AA e se a procura por ajuda aumentou durante a pandemia.

Dra. Camila R. de Sene: Os estudos têm revelado essas informações do aumento do consumo de álcool na pandemia. Enquanto nós estamos conversando aqui, veja a importância desse trabalho para a comunicação e a prevenção, estou conectada aos nossos comitês e já tivemos em uma das áreas do AA mais de 20 ligações falando dessa nossa reunião.

CBN: Como a pessoa entra em contato?

Dra. Camila R. de Sene: Nós temos uma linha de ajuda: (11) 3229-3611 mas o acesso mais viável é o nosso site oficial: www.aa.org.br, que tem uma aba que dá acesso para nossas reuniões virtuais. Assim que houve o decreto do fechamento das nossas salas de reuniões, tivemos que pensar em estratégias para continuar com elas. Como a Maria disse em sua fala, acho que o mais importante foi a parte de que começou a se sentir humana frente a sua doença a partir de que se reconhece com outras pessoas com o mesmo problema. Então, em AA, essa identificação é possível, pois é um alcoólico falando com outro alcoólico contando suas histórias, dificuldades, seus recursos para se manter em sobriedade, manter seu comportamento e resgatando sua esperança, sua família, seu trabalho, sua dignidade. E pelo tempo que ela nos conta, acredito que ela veio até nós através de uma das nossas plataformas. Desde 25 de março de 2020, já instituímos nossas reuniões virtuais e, de lá para cá, nós percebemos vários dados importantes. Primeiro: o número de pessoas acessando nossa plataforma, buscando informações sobre nossas atividades e, segundo: o número de mulheres. Antes, havíamos feito um inventário em 2018 com em torno de 18% de mulheres e, hoje, já existe quase 40%. Houve uma incidência muito maior pelas mulheres.

CBN: Existe um motivo para isso?

Dra. Camila R. de Sene: Nós temos algumas hipóteses... A plataforma viabilizou o acesso. Qualquer pessoa pode estar na sua casa e acessar nossas reuniões. Mas as mulheres, em função dos seus afazeres, sua rotina e principalmente pelo medo de não ficarem no anonimato já que são mais julgadas pela sociedade, elas acabaram acessando mais pela internet onde sua identidade é mais resguardada.

Dra. Clarice Madruga: Eu gostaria de comentar que existem menos mulheres “bebedoras” estatisticamente, mas entre aqueles que bebem abusadamente, uma mulher tem muito mais chance de desenvolver o alcoolismo. Então, acho importante ressaltar que a dificuldade da mulher de aderir a tratamentos sempre foi mais difícil devido aos hormônios sexuais, que nos tornam tão especiais mas, nos atrapalham nessa questão.

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