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Paulo Corrêa

Cigarro eletrônico: lobo em pele de cordeiro.

Mitos e verdades sobre o Cigarro Eletrônico e os dispositivos Eletrônicos para Fumar

A Organização Mundial da Saúde – OMS – considera o tabagismo um importante problema de saúde pública e uma das principais causas de morte passíveis de prevenção.

Muitos tabagistas, quando perguntados sobre seu vício, declaram que se pudessem voltar no tempo, não teriam iniciado a fumar e que gostariam de parar, mas que têm muita dificuldade em parar e/ou permanecerem abstinentes.

Um dos fatores que dificultam a cessação do tabagismo é a dependência de nicotina. Neste contexto, um farmacêutico chinês chamado Hon Lik criou o cigarro eletrônico, como uma forma de reposição de nicotina. A comercialização desses dispositivos eletrônicos de fumar tem sido disseminada através da internet e também por venda direta ao consumidor em vários países, mesmo em localidades onde isso é proibido por lei.

O uso crescente destes dispositivos, sobretudo por adolescentes, tem gerado muita preocupação e para falar sobre esse assunto, o 7º Congresso Internacional Freemind trouxe o dr. Paulo Corrêa, que é Médico Pneumologista, presidente da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e coordenador, no Brasil, de um processo de prevenção à iniciação do tabagismo em jovens chamado Education Against Tobacco.

Com uma palestra intitulada: Cigarro eletrônico: lobo em pele de cordeiro. Mitos e verdades sobre os dispositivos Eletrônicos para Fumar, dr. Paulo traz informações relevantes e que mostram que ainda faltam muitos estudos acerca do assunto, mas que o que já temos mostram claramente o risco envolvido no uso desses equipamentos e as mentiras que a indústria tem usado para promover seus produtos.

Veja um pouco do que ele disse. Você também pode assistir a palestra na íntegra em https://bit.ly/3dsU3eB  e fazer o download da apresentação no site do Freemind.

Para começar, precisamos saber como chamar os dispositivos eletrônicos para fumar, já que isso muda conforme a língua e os países. Em inglês são conhecidos como sistemas eletrônicos de liberação de nicotina e são abreviados por ENDS. Os americanos também chamam de vaporizadores pessoais ou de vaporizadores pessoais avançados e nos países de língua hispânica eles costumam chamar de sistemas eletrônicos de administração de nicotina com abreviação SEAN e, no Brasil, conhecemos por DEFs.

Muitas pessoas começaram a usar o cigarro eletrônico achando que “fumando um produto de fundo de quintal” estavam agindo contra a indústria do tabaco. Mas o que acontece na realidade é que as grandes indústrias de Tabaco, como a Phillips Morris, a British American Tobacco e outras, já compraram as indústrias caseiras de cigarros eletrônicos e elas preveem que, em 2023 as vendas de cigarros eletrônicos atingirão o mesmo patamar dos cigarros convencionais e que a lucratividade dos cigarros convencionais vai cair, enquanto subirá a dos cigarros eletrônicos.

Em 2014, o Departamento de Saúde Pública da California já afirmava que o aerossol dos e-cigarrettes não era apenas vapor d’água, mas continha pelo menos 10 produtos químicos em sua composição e que eles poderiam causar câncer, defeitos de nascença ou outros danos reprodutivos.

Em 2019, um artigo publicado na Revista de Investigatión Clínica, do México, já afirmava que mais de 80 compostos (incluindo tóxicos conhecidos, por exemplo, formaldeído, acetaldeído, nanopartículas metálicas e acroleína) foram encontrados em e-líquidos e aerossóis.

A maioria dos estudos existentes que investigavam as exposições de cigarros eletrônicos buscavam quantificar constituintes específicos e conhecidos em e-liquidos, especialmente aqueles presentes em altos níveis em cigarros combustíveis, tais como alcaloides do tabaco, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e formaldeído.

Outro artigo, publicado em 2021 na Revista Chemical Research in Toxicology, traz um estudo seminal mostrando uma  análise não direcionada para explorar toda a gama de produtos químicos, tanto no e-líquido quanto nos aerossóis de DEFs, utilizando o método da cromatografia líquida – espectrometria de massa de alta resolução (LC-HRMS) + impressão digital química (fingerprinting).

Os pesquisadores utilizaram para o estudo quatro marcas populares – Juul, Vuse, Blú - que são os cigarros que vendem muito no Estados Unidos e estão na mão das grandes empresas e o sal de nicotina, conhecido por Mi-Salt.

O resultado mostrou que cafeína foi detectada em amostras de 2/4 produtos comerciais de e-cigarrettes analisados: e-liquidos e/ou aerossóis de Vuse e Mi-Salt (Smok), além de identificar também 3 produtos químicos industriais e um pesticida, num total de quase 2.000 produtos químicos - a maioria não identificada!!!

Outro fator a se levar em conta são as nanopartículas. Antes, se falava que o risco cardiovascular dos cigarros convencionais tinha a ver com o monóxido de carbono. O cigarro convencional tem uma massa de partículas muito pequenas que são como se fosse um milhão de vezes mais fino que um fio de cabelo e que são chamadas de nanopartículas - 10-9m.

Quando se aumenta a quantidade de nicotina, igual no cigarro Juul ou Suorin, por exemplo, aquela curva de cima você tem um aumento da massa de nanopartículas, que são biologicamente ativas e desencadeiam processos inflamatórios, sendo responsáveis por um risco cardiovascular agudo, com a possibilidade de anginas, infartos e derrames.

Ao estudar o efeito dose-resposta da exposição, foi possível verificar que um pequeno aumento de nanopartículas promove um grande aumento do risco cardiovascular.

 

Desmistificando os mitos relacionados aos DEFs:

 

Mito 1 – “É só vapor d’água”

No cigarro convencional já se sabe que existem mais de 7.000 substâncias químicas e foi possível ver pelos estudos apresentados que os dispositivos eletrônicos para fumar têm cerca de 2.000 substâncias químicas (por enquanto!).

Então: “é só vapor d’água?” Isso é MENTIRA!

 

Mito 2 – “Falsa distinção entre fumar e vaporizar”

Várias propagandas usam apelos afirmando que o cigarro eletrônico é saudável, que não atrapalha o meio ambiente, que não tem efeitos colaterais, que não provoca a tosse do fumante, etc. Vejam que esta é a mesma propaganda que a indústria do cigarro convencional fazia há 92 anos atrás, em 1930.

Não é verdade que não há combustão: Estudos prévios ao de Prasse detectaram os subprodutos relacionados à combustão do benzeno e tolueno em aerossóis de e-cigarrettes.

As observações de mudanças nas proporções de H/C e conteúdo de condensado tipo hidrocarboneto após a utilização de DEFs sugerem que os processos semelhantes à combustão ocorrem durante o uso de DEFs, apesar das temperaturas mais baixas que fumaça de cigarro combustível.

Se tem hidrocarboneto, tem combustão! Então existe distinção entre fumar e vaporizar? Não! Então, o mito 2 é mentira!

 

 Mito 3 – “É tratamento para parar de fumar”

E aqui, nosso mito 3: a indústria fala que é tratamento para parar de fumar - é mentira!!! Cigarro eletrônico é cigarro! Não é tratamento para poder parar de fumar!

O próprio Hon Lik, que criou o cigarro eletrônico para parar de fumar fala que é um usuário dual - continua fumando cigarro convencional além do cigarro eletrônico, mesmo após vender sua empresa para a Imperial Tobacco.

Um artigo recente de abril/2022, traz evidências globais compiladas pelo governo da Austrália mostrando que pessoas que nunca fumaram e que usam DEFs tem probabilidade três vezes maior de experimentar cigarro convencional e de se tornarem fumantes regulares de cigarro convencional; portanto, isso deve ser uma grande preocupação, porque são pessoas que não fumavam e que estão sendo atraídas pelos vapes.

 

Mito 4 – “Quem começa fumando vape não fuma cigarro convencional”

Nosso mito 4 é que quem começa fumando vape não fuma cigarro convencional: É mentira! O início precoce do tabagismo foi associado a várias coisas ruins: consumo diário pesado, maior duração do tabagismo, maior dependência da nicotina e menor sucesso na cessação.

Breslau, em um trabalho famoso publicado na Revista Americana de Saúde Pública, mostrou algo extremamente preocupante: quanto mais cedo você começa a fumar maior é a dificuldade em parar de fumar. Então, o fato dos dispositivos eletrônicos para fumar apresentarem aspectos bastante atrativos (alguns parecendo batons, coloridos e outros bem femininos, por exemplo) é algo muito preocupante.

Um outro estudo interessante, publicado na Pediatrics, mostrou que o uso de dispositivos eletrônicos no início da adolescência traz um risco de uso dual de tabaco e maconha no meio da adolescência, ou seja, ele é porta de entrada: na hora que você aprendeu a fumar, você começa a fumar outras coisas.

 

Mito 5 – “Vaping não produz Second-Hand Smoke”

A corrente secundária é formada pela fumaça que o fumante exala e 85% sai da ponta do cigarro aceso (fumaça lateral). Agora que já se sabe que o aerossol de e-cigarrette é produzido por combustão a temperaturas mais baixas daquelas que ocorrem nos cigarros convencionais, e que são repletos de compostos orgânicos voláteis, é impossível concordar com a indústria que fala que não há tabagismo passivo (second-hand smoke) no uso de dispositivos eletrônicos para fumar.

Então, o mito 5 de que vaping não produz second-hand smoke é mentira!

 

Mito 6 – Vaping não produz Third-Hand Smoke (THS)

O fumo terciário acontece quando o fumante usa cigarro convencional ou cigarro eletrônico, e as substâncias presentes na nicotina e na fumaça se depositam sobre os móveis, expondo os pets e as crianças, por exemplo. Você tem exposição tanto pela pele como, por exemplo, quando uma criança que está brincando com um brinquedo, o coloca cheio de produto químico de tabaco na boca e engole. Também pode ocorrer quando se abre uma janela e ocorre a ressuspensão das partículas depositadas.

Então o vaping não produz third-hand smoke? é mentira!

 

Conclusões:

  • Não é só vapor água – são quase 2.000 produtos químicos
  • A distinção entre fumar e vaporizar é falsa: cigarro eletrônico é cigarro
  • Não fumantes que usam DEFs têm probabilidade 3X maior que os não usuários de se tornarem fumantes regulares de cigarros convencionais
  • Cigarro eletrônico NÃO é tratamento de cessação
  • Vaping produz Second-Hand Smoke e THS

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